11 janeiro 2006

A Visão

estou concentrada no terrível abandono
que é a existência de cada um
e nada agora pode ser reduzido

é a visão do olho
aprisonada ao que vê
desde a cela de onde vê

estou concentrada na tragédia mais íntima
no detalhe, na partícula
na fração de um gesto, uma palavra
um silêncio
que desviou um destino

e nada agora
pode ser presumido

estou concentrada no tremendo vazio
das conquistas imaginárias
dos desejos apodrecidos, da dissolução
de uma vontade

nada agora
pode ser resumido

é a visão do olho
condenada ao que vê
desde a hora em que vê

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