vida e morte são parte
de uma coisa só
o nome é que não existe
uma guarda a ciência da outra
estão refletidas no espelho
num reconhecimento de gêmeas
todo o tempo de existir
mistérios há, do mesmo tanto,
nas duas
e no ponto em que uma culmina
a outra continua
mas evitamos
no olho gêmeo a sombra na retina
no olhar do outro, refletida,
a mesma sina
até que um dia
a vida vem e revela
que nela
só morte havia à espera
07 outubro 2005
Ensaio de um Reconhecimento
como se tantos espelhos gigantes
dispostos uns contra os outros
trincassem
em mais e mais ângulos, cortes
o teu corpo ao centro do quarto
são quatro paredes de vidro
retendo de ti várias faces
e todos os olhos vidrados
em tudo de ti que é disfarce
nenhum dos espelhos percebe
no olhar a imagem se esquece
aquele que escapa ao reflexo
é o único que te reconhece
dispostos uns contra os outros
trincassem
em mais e mais ângulos, cortes
o teu corpo ao centro do quarto
são quatro paredes de vidro
retendo de ti várias faces
e todos os olhos vidrados
em tudo de ti que é disfarce
nenhum dos espelhos percebe
no olhar a imagem se esquece
aquele que escapa ao reflexo
é o único que te reconhece
06 outubro 2005
Noite Alta
deste, que é o silêncio
ouvindo meus pensamentos
quando fora tudo é suspenso
mas por dentro nada cala
na hora em que tudo pára
no sono que a todos dorme
a voz, em sussurro, é alta
e a falta me tem repleta
neste, que é isolamento,
a solidão luta
e não escapa
nem da insônia das palavras
nem da ausência que a escuta
ouvindo meus pensamentos
quando fora tudo é suspenso
mas por dentro nada cala
na hora em que tudo pára
no sono que a todos dorme
a voz, em sussurro, é alta
e a falta me tem repleta
neste, que é isolamento,
a solidão luta
e não escapa
nem da insônia das palavras
nem da ausência que a escuta
05 outubro 2005
No Escuro
teus olhos atiravam no escuro
e abriam feridas
em todos os poros do meu corpo
nem todos os crimes eu cometi
mas todas as mortes eu conheço
e abriam feridas
em todos os poros do meu corpo
nem todos os crimes eu cometi
mas todas as mortes eu conheço
04 outubro 2005
O Espantalho da Vida
prescrutam-me sombras
sombras de rapina
quando menos espero, o bote!
e já estou dentro dos meus escuros
sou eu
entrevada que nem o diabo
imagina
nascida dos infernos
matéria do terror de existir
massa do desespero de ser
ali,
tão cega quanto um raio-x
meu esqueleto vital
o espantalho da vida
toda inteira
carcomida
dentro de mim
sombras de rapina
quando menos espero, o bote!
e já estou dentro dos meus escuros
sou eu
entrevada que nem o diabo
imagina
nascida dos infernos
matéria do terror de existir
massa do desespero de ser
ali,
tão cega quanto um raio-x
meu esqueleto vital
o espantalho da vida
toda inteira
carcomida
dentro de mim
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